sexta-feira, 27 de junho de 2014



tem um tempo uma ideia suicida ronda minha cabeça. não a morte do corpo. a morte de um lugar. este. eu não caibo neste espaço mais.
já escrevo nesse ambiente que chamei, com doçura, texto íntimo há quatro anos. parece pouco, mas numa vida ainda curta, não é. foi assim: idos de 2010 e eu, cursando a graduação, queria um lugar para expor uma vontade, que não existe mais, “ser autor”. percebi, tem tempo, mas agora admito, que meu anseio primitivo não sustenta mais as linhas do que eu faço aqui.
sim, escrevo intimidades. não, não posso me considerar autor por isso.
minhas intimidades não interessam a ninguém e se, ao acaso, interessarem, dou-as. não tenho outra vontade senão dizer. dizer simplesmente.
essa é a morte de um espaço. é a terra morta, não o defunto. o morto é vivo. anda por aí, porque as palavras não morrem. as palavras não cessam de viver. por isso, só esta terra infértil não terá mais raízes germinando coisas. é um fim digno. um fim que existe porque não sou mais o mesmo de há quatro anos.
aos meus leitores, se há leitores, sinto muito. acho, de verdade, que eu terei outro lugar. mas esse ouro lugar ainda não existe. enfim. é uma morte de verdade.
meus caros.
Fim.

fim.
ramoncjunho2014.

sexta-feira, 20 de junho de 2014



camaradas...
vinde!
que a vida é mesmo qualquer coisa nossa
e vive melhor aquele que simplesmente vive!
não se deixe impressionado com as doenças,
com o trágico e com o caos. os que não comem...
por maiores que sejam as empresas,
o mal da vida não é a vida: é o homem.
se você, camarada, larga dessa baboseira
de não ser quem é, de ter medo, de fobia de tudo...
você verá, eu lhe garanto, quanta bobeira
é essa de não estar de bem com o mundo.
o mundo ri, as moças riem. conjugue o verbo
e você verá, meu camarada, o seu sorriso.
pois o verbo rir é um dos bons. a ti atesto.
mas o sorriso das moças é o melhor sorriso.
não se engane, camarada, com as tuas dores
há egoísmos,  há trambicagens, há desamores!
mesmo assim, camarada, pegue uma cadeira e veja
o lobo do lobo também inventou a cerveja!

hino aos camaradas.
ramonsjunho2014.

quinta-feira, 19 de junho de 2014



a tentativa inescrupulosa de convencer , os que não puderam ver as flores, de que naquele canto do jardim onde jogaram sal  nunca nasceu nada é, antes de tudo, a tentativa de provar que flores não existem.
mas as flores existem.
jogaram, naquele canto do jardim, um punhado de sal na espectativa ( com “s”, porque resgata o termo latino ~espectro~, ou seja, o que está à frente) de que não nascesse flor alguma. e, vindouros dias, trouxeram o futuro que, infelizmente, não deixou que nada, naquele canto, pululasse à primavera. ficou um canto de jardim oco. um pedaço de chão calvo. era o marrom da terra rodeado por cor de vida.
aquele canto oco de jardim era mais que a prova de que as flores existem. pois, pensando um pouco, chegava-se a conclusão: houve flores que foram, à força, impedidas. não era a ausência das flores... era o aborto da terra. alguém, à fórceps, tinha impedido o florescer. não significava a ausência das flores, significava a tentativa violenta de negação das flores.
era o assassinato. era o medo do crescimento.
reina, naquele canto, um cemitério florido. sua ausência é dor. sua presença é negação. sua existência é humanidade.

era o assassinato ou sobre uma conversa com a Flor Azul.
ramoncjunho2014.

segunda-feira, 16 de junho de 2014



estou convencido de que a vida é a única coisa que existe.
viver e fazer planos?
tanto o faz...
se não se pode, se quer, controlar a física que há por trás dos planos.
e dos desejos.
o homem escolheu viver ilusões criadas por outros homens.
são colecionadores de lendas sobre si mesmos...
comem, dormem, andam. negam os próprios desejos.
falam de deuses como se falassem de pessoas,
como se fosse possível que uma pessoa fosse um Deus, sem deixar, antes, de ser uma pessoa.
não vejo divindade em ser um Deus.
não há nada de belo em sustentar um discurso. o Deus para qual rezo é sempre o mais poderoso.
vejo divindade em ser pessoa.
andar por aí e fazer planos, poucos, para a próxima hora.
as pessoas não têm condições de amar.
pois o amor é, Lacan provou, um sentimento tão divino quanto os Deuses.
como poderia o homem ter um sentimento divino se, para ser Deus, o homem deve deixar a própria humanidade?
o amor é a canibal vontade de devorar um pedaço do outro que você imagina seu.
é querer do outro o sangue. as horas todas. os olhares todos.
querer que o outro suba em um pedestal de madeira, barroco, barroco...
para que você o imagine Deus.
não existe nada além da vida e da vaidade...
ser vivo, nesse planeta à beira do abismo, é ter de aceitar a racional verdade...
a verdade de Kant, na razão pura, que o homem só existe na palavra...
que a humanidade é negada.
e que ser Deus é nosso desejo.
ser Deus é nosso desejo.
ramoncjunho2014

sexta-feira, 13 de junho de 2014



jaqueline é um mulher negra, suja. sua aparência é provocativa. jaqueline cheira a mijo, tem as unhas pretas de sujeira que sai da própria pele.
ela entrou no estabelecimento onde eu, sozinho, bebia café com olhos de rapina. procurava algo, ou alguém – pensei quando a vi – de uma maneira cheia de agonia e pressa.
- coca-cola? alguém ofereceu à jaqueline.
- sou de recusar coca? disse, jaqueline, com cara de quem não recusaria nada. jaqueline parecia ter fome de tudo. comeria qualquer coisa que lhe pusessem a frente.
jaqueline pegou a garrafa, recusou o copo.
- oi, neguinha...
- eu sou ja—que—li—ne !
jaqueline recusou a alcunha que um homem lhe deu.
- eu sou preta, mas meu nome é já—que—li—ne.
o homem calou-se. eu sorri em direção à jaqueline... que sorriu olhando pra baixo. jaqueline teve vergonha de sorrir de volta. olhou-me para ter certeza de que eu sorria para ela, e disse “oxi”, consternada, embaraçada. não soube o que fazer com o meu, invasivo, sorriso.
jaqueline pôs no balcão um número grande de moedas que foram trocadas por uma ou duas notas. não sei quanto. olhei mais uma vez para jaqueline e seus olhos eram vivos, vivos. jaqueline saiu de onde eu estava sem perceber que eu tinha segurado em suas mãos, e visto uma mulher linda, linda... 

ja—que—li—ne.
ramonchavesjunho2014.